Flashback!
Cada flashback deve ter um gatilho claro e impactar diretamente a narrativa do presente.
Olá, Romancista!
Espero que esta neweletter te encontre bem. Percebeu que chegamos ao dia 20 de Novembro do desafio do NaNoWriMo 24? Faltam apenas dez dias para o final do nosso desafio e logo mais você vai ter um livro pronto!
Antes de mergulharmos na escrita de hoje, quero tirar um minuto para falar sobre um aspecto importante da narrativa que muitas vezes é negligenciado: flashbacks!
Muitos romancistas sentem um frio na barriga só de pensar em incorporar flashbacks em suas histórias. E se isso interromper o fluxo? E se confundir os leitores? E se eles largarem o livro e nunca mais voltarem?
Essas são perguntas válidas, e por isso hoje quero compartilhar com você meu método infalível para escrever flashbacks envolventes e bem amarrados.
Sim, é verdade: flashbacks pausam a ação atual da sua história para revisitar um momento anterior. Então, como podemos integrar um flashback de forma fluida? De um jeito que não pareça que estamos interrompendo a história?
A responsta é simples: cada flashback deve ter um gatilho claro e impactar diretamente a narrativa do presente. O segredo? Causa e efeito.
Veja o exemplo a seguir.
O capítulo 6 de Eva. Vanguarda começa dessa forma:
— VOCÊ ESTÁ PRESA. Tem o direito de permanecer calada. Tudo o que disser pode e será usado contra você no tribunal. — O oficial disse, enquanto algemava Eva.
Após isso, a narrativa precisa voltar ao passado para que o leitor entenda como Eva foi presa.
A delegada conferiu se a conversa estava sendo gravada e entrelaçou as mãos sobre a mesa.
— E o que aconteceu quando deixou a sede do The VUR?
— Bem, eu acho que agora você poderia me dizer o que aconteceu.
— O que você quer dizer?
— Eu saio do The VUR, vou tomar café no mercado coberto, e de repente, estou sendo presa na rua.
— Foi isso o que aconteceu? Foi tomar um café?
— Exatamente.
— Mais nada?
A delegada Marshall assistiu a garota abrir a boca.
— Não é possível! O que aquele corno inventou sobre mim?
— Continue contando o que aconteceu, Oliveira.
Mas a garota não estava mais escutando. Estava de pé, olhando e falando para a janela de vidro.
— Eu quero ver você falar na minha cara, seu filho da puta!
— Ele não está aqui. — Eva olhou para a delegada outra vez. — Só me conte o que aconteceu.
Neste momento, o flashback começa. Eu opto por colocar a narrativa do flashback em itálico para que ela fique em destaque.
Ao sair do mercado coberto alimentada e feliz, Eva foi caminhando faceira até a entrada da universidade, onde pretendia assistir aula daquele jeito mesmo, com seu pijama de blusa e calça de seda azul marinho e bolinhas vermelhas. Porém, perto da entrada da Christ Church College, atropelou uma garotinha, fazendo-a derrubar a mochila.
— Opsss... Me Desculpe.
— Olha por onde anda!
Eva se assustou com o tom da menina, e mais ainda com o fato de ela estar sozinha na praça. Era baixinha, gordinha e não parecia ter mais de dez anos de idade. Eva procurou por um adulto que pudesse estar com ela, mas não tinha ninguém por ali.
— O que você está fazendo sozinha aqui, meu bem? Está perdida?
Costa, Ane. Eva. Vanguarda (pp. 115-116). Ane Costa / Editora Livr(a). Kindle Edition.
Causa e efeito! Sem o flashback nesse momento da narrativa, o leitor não vai saber o que aconteceu com Eva. Além disso, o flashback marca o primeiro encontro de dois personagens importantes. Dessa forma, o flashback não apenas é essencial na narrativa como ele também coloca ênfase ao que acontece por estar deslocando a narrativa no tempo e espaço.
Se todo flashback na sua história for motivado por um gatilho, e sua relevância para a trama for evidente quando voltamos ao presente... Parabéns. Você criou um flashback envolvente. Isso porque ele respeita essa lei natural de causa e efeito.
Lembre-se dessa fórmula: GATILHO > FLASHBACK > IMPACTO NA HISTÓRIA
Enquanto escreve, pergunte-se: Por que esse flashback é crucial? O que o desencadeia, e qual é sua importância? Caso o flashback forneça informações não imediatas (ou seja, que o leitor apenas precisará mais tarde), guarde-o e gere algo ainda melhor no seu leitor: curiosidade. Se o leitor não estiver curioso para ver o flashback (e ansioso para ter suas perguntas respondidas), você não está aproveitando o fator recompensa (o mais poderoso elemento da narrativa).
A proporção mágica
A proporção mágica que você quer buscar entre curiosidade e recompensa é de 2:1. Ou seja, devemos ter o dobro de perguntas do que respostas, mas ser constantemente recompensados, aos poucos, com respostas (disparando aquela dopamina no cérebro que nos faz querer continuar lendo).
Se você nunca recompensar o leitor com respostas para as perguntas que está criando, pode perder a atenção dele antes de chegar à “grande revelação” no final.
Lembre-se, o passado é um quebra-cabeça. Temos satisfação em montar as peças e ver o quadro completo. Primeiro desperte a curiosidade, depois forneça a resposta.
Aqui está minha regra básica para flashbacks: Dê o suficiente para que eu me importe com as personagens, mas deixe o bastante de fora para que eu continue curiosa sobre elas.
Intenção do Dia:
Tudo na sua história deve seguir a lei natural de causa e efeito — especialmente seus flashbacks.